Na próxima terça-feira (29/08) será realizada a estreia da audiossérie “França e o Labirinto”, primeira obra da produtora Nonsense Creations, do Jovem Nerd, publicada como um Original Spotify®. Próximos da data do lançamento oficial, conversamos com Alexandre Ottoni, um dos principais idealizadores do projeto, sobre as expectativas do lançamento, o trabalho com um excepcional casting de vozes e também os perrengues da produção da série.
A inspiração inicial para França e o Labirinto veio do mundo do áudio binaural, uma tecnologia que engana o cérebro e cria uma experiência imersiva semelhante à do cinema 3D. Segundo Alexandre, eles buscavam criar uma história que aproveitasse essa tecnologia de forma significativa – e não apenas como um elemento superficial. “Áudio binaural foi a semente primária da ideia dessa história”, revelou. “Nós já tínhamos a experiência com o Nerdcast RPG, já usamos esse efeito antes, mas ficamos nos perguntando ‘como a gente pode fazer com que isso não seja só uma firula da história?’”.
Foi ao redor deste questionamento, que Alexandre Ottoni e Deive Pazos (Azaghal) chegaram à ideia central de ter um protagonista cego. “Se a gente tem esse protagonista cego, [em] que toda a história está acontecendo ao redor dele e ele está só ouvindo, o ouvinte fica na mesma posição”.
O personagem Nelson França, interpretado por Selton Mello, mesmo sendo privado da visão, enxerga a trama de maneira mais profunda e perspicaz do que os outros personagens da série. Essa escolha trouxe elementos de vulnerabilidade e perigo ao protagonista, que não deixa de ser forte e independente – dentro de suas possibilidades.
Mas com o conceito definido, pra onde iria a história? “Em volta do protagonista a gente começou a pensar no que seria uma história interessante de se contar”, disse Alexandre. “Aí eu e o Azaghal fomos chegando em um formato baseado em coisas que a gente gosta: histórias de mistério, detetive, crimes. A gente tem fascínio por essas histórias antigas de investigação, serial killers, detetives noir”.
Com a ideia em mãos, eles apresentaram o conceito a Leonel Caldela e Fábio Yabu, que ficaram responsáveis por desenvolver a história, enredos e roteiros. O próximo passo seria apresentar a história pro Spotify, que segundo o criador de conteúdo, os recebeu de braços abertos. “O Spotify foi uma mãe pra gente. Eles compraram a ideia de cara, e até sugeriram ‘vamos fazer com uma voz conhecida’. O Selton Mello tava no topo da nossa lista, mas naquele momento, pra gente, ele era um sonho inalcançável”.
Na época, o ator realmente era inalcançável. Selton estava impossibilitado de participar no projeto por conta de sua agenda e outros contratos, mas o casting da voz principal durou por tanto tempo, que ele acabou ficando disponível na segunda tentativa de contato do Spotify. “Ele adorou o projeto e comprou a história desde o início. Foi uma parceria muito boa com ele, com o Spotify. A plataforma deu uma confiança muito grande pra Nonsense Creations, nós pudemos fazer tudo do jeito que a gente queria, e eles mantiveram um vínculo super profissional com a gente mesmo que tivessem que lidar com muita burocracia, e uma pandemia no meio”.
França e o grande elenco do Labirinto
Além de Selton Mello, a série França e o Labirinto reúne uma equipe de vozes excepcionais para dar vida aos personagens. Entre os dubladores envolvidos, estão Luiz Carlos Persy, Maíra Góes e Jorge Lucas. Esse elenco de elite foi dirigido pela também dubladora Fernanda Baronne. “Que elenco maravilhoso, eles fizeram um trabalho excepcional” comentou Alexandre Ottoni. “O Selton gravou toda a parte dele de uma vez. Os outros atores ouviam a gravação dele e iam reagindo de acordo, pra montar a cena.”
A pessoa responsável pelo quebra-cabeça de diálogos foi ninguém menos do que Azaghal. “A gente participou de tudo. Desde o conceito e o direcionamento da história, até o Azaghal ir comprar brownie pro Selton Mello no dia da gravação dele [risos]. Mas o Azaghal teve um papel muito mais técnico, porque ele quem fez a montagem dos diálogos. Ele foi o responsável pela fluidez, [pelas] decisões de diretor, pra tornar tudo real e parecer que tudo está acontecendo no mesmo lugar” declarou. “Nossa ideia inicial era gravar todo mundo junto em uma sala com um microfone binaural. Mas percebemos que isso ia deixar o personagem muito preso em um local só. Então gravamos separadamente cada um dos atores, porque se eles estão em pistas separadas, isso possibilita que a gente adicione o efeito binaural na pós-produção”.
No fim, pouquíssimas cenas foram captadas com os atores no mesmo espaço. Segundo Alexandre, cada um deles ajudou a moldar seus personagens através de suas vozes e trejeitos, principalmente Selton. “Ele ia lendo o roteiro e fazendo do jeito dele. Com isso, ele acabou transformando o personagem de uma forma diferente da original. O Nelson França acabou sendo um trabalho conjunto entre aquele que estava na história, e aquele que o Selton interpretou”.
Expectativas sobre o lançamento
Questionado sobre quais as principais expectativas dele, da produtora e do Spotify quanto ao lançamento da série, Alexandre foi contemplativo. “A nossa maior expectativa era em fazer algo totalmente diferente do que tínhamos feito até agora no Nerdcast. França e o Labirinto é uma história de suspense, de crime e de detetive. Qualquer tipo de pessoa é o público em potencial. Se você ouve o Jovem Nerd e gosta da série pode recomendá-la para o seu pai e a sua mãe, que mesmo não sendo nerds, também vão gostar”, declarou. “É uma história bem pé no chão”.
A experiência completa da imersão 3D acontece com os fones de ouvido.
Segundo Alexandre, a produtora Nonsense Creations já tem outros projetos em andamento. “Mas sem spoilers por enquanto!”
Sobre o consumo de França e o Labirinto pelo ouvinte, o criador tem algumas dicas.
“Não tem regra de como ouvir, mas a experiência completa da imersão 3D só acontece com fones de ouvido. Dá pra ouvir no carro, na caixa de som… Vai funcionar também, só não vai ter o efeito completo da imersão no universo do França”, disse ele. “E se o ouvinte quiser a experiência mais completa, premium e plus,[risos] é só fechar os olhos e entrar na pele do protagonista” declarou, de forma bem humorada. “Mas reitero que não é uma regra, usar os fones de ouvido é só uma dica” completou.
Um trabalho feito à muitas mãos
Ao final da entrevista, Alexandre tinha um pedido especial: que todas as pessoas mencionadas ao longo da conversa fossem citadas nominalmente, já que todas elas imprimiram um pouco de si mesmas na identidade do projeto.
Quando você acha um time talentoso e coeso, que realmente tem paixão pelo projeto, que contribui e engrandece a ideia, é maravilhoso.
“[A série] não é só um trabalho dos autores, só de produtores, ou de uma pessoa só. França e o Labirinto foi um trabalho de todo mundo. Quando você acha um time talentoso e coeso, que realmente tem paixão pelo projeto, que contribui e engrandece a ideia, é maravilhoso. Eu passei a vida inteira ouvindo produtores de filmes comentando sobre como o processo é enorme e movimenta muita gente. Ver isso acontecendo, viver isso, é muito legal” disse. “Quando você compartilha a criatividade chega a lugares que, sozinho, nunca pensaria em chegar.”
França e o Labirinto estará disponível no Spotify à partir do dia 29 agosto. O conteúdo não será exclusivo para assinantes, e sim ao público geral da plataforma. Ouvintes com deficiência auditiva e/ou mono auditivos poderão alterar o método de exibição de áudio para “mono” dentro do próprio Spotify, de forma a não perder nenhuma parte da história por conta do áudio binaural.
A série não apenas explora novas maneiras de usar o poder do áudio, mas também celebra o compromisso de contar histórias de maneira acessível – que é um exemplo que a gente espera ver cada vez mais.
Entrevista originalmente publicada em Castnews.