Hoje vou tocar em algumas feridas de outras pessoas que produzem podcasts e talvez até de consumidores, mas é por uma boa causa. Há pouco mais de dois anos, adotamos o termo “podcast em vídeo” para programas que são oferecidos em dois formatos diferentes: vídeo e áudio. Se você já pensou nisso, em fazer podcast em vídeo, esse texto pode cair como uma luva (ou como uma bomba) para você.
Luz, câmera e… podcast?
Eu penso e defendo que não.
Se você já acompanha meu trabalho e minhas falas já deve ter se deparado com minha defesa pelo podcast como áudio. Talvez já tenha até lido, visto ou ouvido eu martelando que podcast é uma coisa e vídeo é outra, “então não me venha falar que podcast em vídeo existe, porque o que existe é gravação do seu podcast em vídeo ou vídeo feito do seu podcast”.
Polêmicas à parte e considerando que a evolução atual do rádio é (pasme) o audiovisual com recurso de vídeo, minha insistência em defender o podcast como áudio não é birra ou sem propósito. Tem muitos pontos e vou explorar alguns nesse texto.
Focando na produção
Produções dentro do audiovisual são diferentes e isso impacta em toda a cadeia de pré, produção e pós-produção, além de formas de divulgação, consumo e retorno. Por retorno você pode considerar retorno de comunidade, financeiro, social e afins.
Produzir um áudio é muito diferente de produzir um vídeo. A demanda para equipamentos, locais e recursos são outros. A forma de se comunicar é outra.
Faça um teste: grave um episódio à distância apenas com o recurso de áudio. Grave outra com recurso de vídeo, porém sem transmissão. Por fim, grave outra pensando que será um vídeo transmitido. Me diga se percebeu alguma diferença e como foi a experiência de fazer os três.
Pensando na pós-produção e divulgação
Pensando e investindo, diga-se de passagem. Quais são os recursos necessários para pós-produção de um áudio? E de vídeo? E as formas de divulgação, quais as melhores?
Cortes de vídeo em redes sociais funcionam muito bem, pois redes sociais são feitas e pensadas em massa para pessoas videntes. Na prática, o que o Twitter, o Instagram, o Facebook, o TikTok ou qualquer outra rede quer é que você fique ali, totalmente ali, sem sair de lá por nada. Então, é claro que vídeos com imagens vão se destacar ali dentro e te prender por mais tempo, capturando a sua atenção.
Mas isso não é nada novo. Bem antes da moda de “podcast em vídeo”, podcasters já faziam divulgação de seus conteúdos em áudio em forma de vídeo com imagens estáticas.
A forma de consumir
A forma de consumir podcast mudou e mudou ainda mais com a onda de “podcasts em vídeo”. Isso talvez seja um dos pontos que mais me incomoda nisso tudo. Se de um lado agora você tem mais views, você tem menos conexões. Quem consome seu conteúdo passou a ser um dado numérico num mar de dados relacionados que, talvez com ferramentas e contatos adequados possam te dar um retorno financeiro com publicidade. Mas, sejamos realistas: a maioria esmagadora de pessoas que fazem podcast no Brasil não recebem um único centavo por isso, já que podcast ainda não é monetizado por aqui em massa.
Onde está a sua comunidade? Como são feitas as suas conexões? As pessoas interagem com você ou sobre o seu programa em redes sociais? Você sabe qual é o perfil de quem consome o seu podcast?
Se antes nós tínhamos um contato mais próximo com outras pessoas que produzem podcast e às pessoas que nos ouvem, hoje temos maior distância entre os grupos, hierarquia de distribuição de conteúdo por algoritmo, tendência a crescimento por discurso de ódio ou polêmicas absurdas e, para fechar com chave de ouro, podcasters sobrecarregados, cansados, desestimulados e estafados, pois a onda vem contra e o público quer mais e cada vez, afinal, o público consome pacificamente e não faz mais parte da… comunicação.
Por fim, não posso deixar de citar que os custos envolvidos para produção e consumo de vídeo e áudio são muito diferentes. Ao pensar em produção, considere a limitação de acessibilidade para pessoas com menor renda conseguir alugar um estúdio com operador de som e luz para fazer “podcast em vídeo”, além de necessitar de profissional especializado para cuidar da edição. Do outro lado da moeda, apenas para quem consome, assistir vídeos de podcast pode zerar os seus dados de internet no celular, caso você não tenha acesso fácil e ilimitado a bandas larga ou wi-fi. Isso dificulta o consumo e o acesso. Pontos a se pensar para quem quer entrar na onda do “podcast em vídeo”.
Se quiser aprender mais sobre podcast, trocar uma ideia sobre projetos de áudio, consultorias, me contratar para editar o seu podcast ou me enviar sugestões de temas para o Estúdio 31, me chama nas redes sociais: você me encontra em @domenica_mendes no Twitter ou Instagram. Você também me ouve falando sobre podcast no Estúdio 31, o podcast oficial da @opodcastedelas.
Para conhecer um pouco mais sobre o meu trabalho, visite domenicamendes.com.
Originalmente publicado em 25 de agosto de 2022 em Castnews.